terça-feira, 3 de maio de 2011

Os castelos cristãos moderaram as guerras

A cavalaria foi o grande entusiasmo da Idade Média.

O sentido da palavra cavalheiresco, que ela nos legou, traduz muito fielmente o conjunto de qualidades que suscitavam a sua admiração.

Basta percorrer a sua literatura, contemplar as obras de arte que dela nos restam, para ver por todo lado — nos romances, nos poemas, nos quadros, nas esculturas, nos manuscritos com iluminuras — surgir esse cavaleiro do qual a bela estátua da catedral de Bamberg representa um perfeito espécime.



Por outro lado, é suficiente ler os nossos cronistas para constatar que esse tipo de homem não existiu apenas nos romances, e que a encarnação do perfeito cavaleiro, realizada no trono de França na pessoa de um São Luís, teve nessa época uma multidão de êmulos.

Nestas condições, compreende-se quais podiam ser as características da guerra medieval.

Estritamente localizada, reduz-se freqüentemente a um simples passeio militar, à tomada de uma cidade ou de um castelo.

Os meios de defesa são então muito superiores aos de ataque: as muralhas, os fossos de uma fortaleza garantem a segurança dos sitiados; uma corrente estendida ao longo da entrada de um porto constitui uma salvaguarda, pelo menos provisória.

Para o ataque, a quase nada se recorre, apenas às armas de mão: espada e lança.

Se um belo corpo-a-corpo arranca dos cronistas gritos de admiração, eles só têm desdém pelas armas de covardes — o arco ou a besta — que diminuem os riscos, mas também as grandes façanhas.

Para cercar uma praça, utilizam-se máquinas: catapultas, manganelas, como a sapa e a mina, mas confia-se sobretudo na fome e na duração das operações para submeter os sitiados.

Também as torres de menagem estão providas adequadamente: enormes provisões de cereais amontoam-se em vastas caves, que a lenda romântica transformou em “masmorras”, e arranjam-se de modo a ter sempre um poço ou uma cisterna no interior da praça-forte.

Quando uma máquina de guerra é demasiado mortífera, o papado proíbe o seu uso: o da pólvora de canhão, cujos efeitos e composição se conhecem desde o século XIII, só começa a propagar-se no dia em que a sua autoridade já não é suficientemente forte, e em que já se começam a esboroar os princípios da Cristandade.

Como escreve Orderic Vital, “por temor de Deus, por cavalheirismo, procurava-se aprisionar de preferência a matar. Guerreiros cristãos não têm sede de espalhar sangue”.

É corrente, no campo de batalha, ver o vencedor perdoar àquele que desmontou, e que lhe grita “obrigado!”.

Cita-se como exemplo a batalha de Andelys, conduzida por Luís VI em 1119, na qual se assinalam somente três mortos entre novecentos combatentes.

(Fonte: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge”, Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)

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